quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MEMÓRIA e razões para um voto consciente em Almada!



Faltam poucos dias para fazer 62 anos. Ou seja, já ando cá há uns bons anos, e porque não renego o meu passado partidário, não tenho qualquer problema em falar dele. Assim, antes de abordar qual é a minha posição nestas autárquicas de 2021, vou fazer uma breve apresentação.

Desde a década de oitenta que sou uma cidadã empenhada politicamente, primeiro na UDP e, a partir de 1999, no BE. Participei em inúmeras campanhas autárquicas chegando a ser cabeça de lista para as assembleias de freguesia do Pragal e do Feijó, embora sem resultados. Em 2005 consegui ser eleita para a Assembleia de Freguesia de Cacilhas, cujo mandato foi renovado em 2009 e nesse ano entrei, também, para a Assembleia Municipal de Almada.

Todavia, a partir de 2010, desentendimentos com a estrutura local do partido levaram ao meu afastamento definitivo das lides partidárias. Insurgi-me, sobretudo, com a alegação de que não podíamos denunciar uma série de ilegalidades praticadas pela CDU para “não dar força à direita”.

Na minha opinião, enquanto mantiver este comportamento (do passado, mas que tudo indica que se mantém no presente), em Almada o BE nunca irá conseguir fazer uma avaliação isenta sobre a qualidade da gestão autárquica porque: são excessivamente tolerantes (coniventes) com uns (CDU) e demasiado sectários (preconceituosos) com outros (PS). Uma postura que, a juntar-se à confusão que os seus eleitos continuam a fazer entre governo nacional e governação municipal (vê-se isso, por exemplo, no conteúdo das moções apresentadas nos órgãos colegiais autárquicos – do município e das freguesias), poderá ajudar a explicar a incapacidade do BE em conseguir implantação a nível local: ao fim e ao cabo os eleitores ainda preferem o original à cópia, por um lado, e por outro, posições intolerantes são cada vez menos suportadas.

À época, muitos foram os meus ex-camaradas que, quiçá medindo-me pelas respetivas bitolas, em discursos inflamados nas redes sociais, vaticinaram a minha passagem para o PS (ou até para o PSD) tal era a sede de poder que consideravam ser a minha. Contudo, até hoje, decorrida mais de uma década, e ao contrário de outros, nunca mais participei em eleições por nenhum partido ou movimento. O que não significa que tivesse deixado de intervir na vida política do “meu” concelho (nasci na Trafaria em 1959, e com exceção do período de 1967 a 1981 em que os meus pais foram morar para Corroios, concelho do Seixal, sempre residi neste concelho), muito pelo contrário (no arquivo deste blogue, e noutros aqui identificados, encontra profusa documentação sobre a minha intervenção política, no BE e a título individual pelo que não vale a pena adiantar mais conversa sobre esta questão).

Agora sobre as autárquicas de 2021.

Mais do que a “campanha de lavagem cerebral” que a CDU tem andado a fazer no terreno e nas redes sociais (refiro-me, em particular, ao programa “Aqui vamos ter obra” como se fosse tudo muito fácil de concretizar, as verbas estivessem ali ao lado disponíveis para serem aplicadas, o concelho não tivesse outros problemas estruturais a resolver, mas, principalmente, como se antes não tivessem estado mais de 40 anos na liderança da câmara municipal e, sobretudo, como se os/as almadenses sofressem de amnésia seletiva e já não se lembrassem dos múltiplos exemplos de más práticas ao nível da gestão dos recursos humanos, da proteção do ambiente, do urbanismo, da contratação pública, da parcialidade na atribuição de apoios/ subsídios, da falta de transparência na gestão autárquica, na limitação do acesso à informação administrativa, etc. etc.), confesso que me espanta a desfaçatez de alguns “apoiantes de circunstância” que vindos dos mais diversos setores e partidos – muitos deles antes ferrenhos opositores da CDU – resolveram, agora, vestir a camisola da coligação por, alegadamente, terem sido prejudicados pela atual gestão PS / PSD e usam o seu caso particular como sintoma da doença que dizem padecer o executivo em funções, generalizando o diagnóstico e considerando o seu voto nos anteriores carrascos como o “antibiótico” que cura todos os males que lhes apontavam.

Dizem que a memória dos eleitores é curta, e a daqueles a quem me acabei de referir, assim o demonstra… mas a minha ainda perdura. E por mais críticas que até possa ter à gestão PS / PSD da câmara de Almada (delas não estão isentos), isso não me faz esquecer tudo o que denunciei às autoridades competentes e aqui apresentei neste mesmo espaço, sobre a gestão autárquica da CDU (quem quiser pode consultar os arquivos para se inteirar das várias situações, documentos e respostas obtidas).

Mas, principalmente, não me esqueço das represálias que sofri, desde ameaças à minha integridade física (de forma presencial e nas redes sociais) até às injúrias de que eu e a minha família fomos alvo (com o envio de dezenas de cartas anónimas humilhantes encaminhadas para o meu local de trabalho, para os condomínios dos prédios da avenida onde resido, distribuídas pelos cafés onde sabiam eu costumava frequentar, etc. etc.). É verdade que, apesar de algumas destas pessoas se identificarem como militantes do PCP, isso só as responsabiliza a elas próprias e não transforma a sua conduta individual numa culpa coletiva. Contudo, existe um nexo de causalidade entre as denúncias das más práticas de gestão da CDU na câmara de Almada e as retaliações que me atingiram, e essa é uma ligação que não podemos deixar de considerar.

Por isso, CDU na câmara de Almada? Não, muito obrigada!

Mantendo o BE em Almada, ainda hoje, os mesmos vícios que levaram ao meu afastamento em 2010, obviamente que também não é neles que irei votar.

Porque considero o voto um dever cívico, e não coloco a hipótese de votar nulo ou em branco, resta-me apenas o PS como escolha já que não me identifico com nenhum dos outros partidos concorrentes. Por isso a minha escolha vai para a Inês de Medeiros (Câmara Municipal) e para a Maria D'Assis (freguesia onde resido).

Parecendo uma escolha secundária (não sou hipócrita ao ponto de vir aqui afirmar que partilho o referencial socialista em termos de objetivos de administração autárquica porque isso seria mentir a mim mesma) ela é igualmente válida, pois o que importa é que o voto que depositarei domingo na urna tem tanto valor como os que lá forem colocados por convicção.

A terminar espero que a tendência verificada nos últimos anos no nosso concelho se mantenha: a CDU a descer e o PS a subir, como é notório se compararmos os resultados das eleições autárquicas (imagem inicial – onde é bem visível a progressiva perda de confiança do eleitorado na CDU) ou se fizermos o confronto com as legislativas (com o PS a ultrapassar os comunistas de forma exponencial) – imagem seguinte.


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