Faltam poucos dias para fazer 62 anos. Ou seja, já ando cá há uns
bons anos, e porque não renego o meu passado partidário, não tenho qualquer
problema em falar dele. Assim, antes de abordar qual é a minha posição nestas
autárquicas de 2021, vou fazer uma breve apresentação.
Desde a década de oitenta que sou uma cidadã empenhada
politicamente, primeiro na UDP e, a partir de 1999, no BE. Participei em inúmeras
campanhas autárquicas chegando a ser cabeça de lista para as assembleias de
freguesia do Pragal e do Feijó, embora sem resultados. Em 2005 consegui ser eleita
para a Assembleia de Freguesia de Cacilhas, cujo mandato foi renovado em 2009 e
nesse ano entrei, também, para a Assembleia Municipal de Almada.
Todavia, a partir de 2010, desentendimentos com a estrutura local
do partido levaram ao meu afastamento definitivo das lides partidárias.
Insurgi-me, sobretudo, com a alegação de que não podíamos denunciar uma série
de ilegalidades praticadas pela CDU para “não dar força à direita”.
Na minha opinião, enquanto mantiver este comportamento (do
passado, mas que tudo indica que se mantém no presente), em Almada o BE nunca irá
conseguir fazer uma avaliação isenta sobre a qualidade da gestão autárquica porque:
são excessivamente tolerantes (coniventes) com uns (CDU) e demasiado sectários (preconceituosos)
com outros (PS). Uma postura que, a juntar-se à confusão que os seus eleitos continuam
a fazer entre governo nacional e governação municipal (vê-se isso, por exemplo,
no conteúdo das moções apresentadas nos órgãos colegiais autárquicos – do município
e das freguesias), poderá ajudar a explicar a incapacidade do BE em conseguir
implantação a nível local: ao fim e ao cabo os eleitores ainda preferem o
original à cópia, por um lado, e por outro, posições intolerantes são cada vez
menos suportadas.
À época, muitos foram os meus ex-camaradas que, quiçá medindo-me
pelas respetivas bitolas, em discursos inflamados nas redes sociais, vaticinaram
a minha passagem para o PS (ou até para o PSD) tal era a sede de poder que
consideravam ser a minha. Contudo, até hoje, decorrida mais de uma década, e ao
contrário de outros, nunca mais participei em eleições por nenhum partido ou movimento.
O que não significa que tivesse deixado de intervir na vida política do “meu”
concelho (nasci na Trafaria em 1959, e com exceção do período de 1967 a 1981 em
que os meus pais foram morar para Corroios, concelho do Seixal, sempre residi neste
concelho), muito pelo contrário (no arquivo deste blogue, e noutros aqui
identificados, encontra profusa documentação sobre a minha intervenção
política, no BE e a título individual pelo que não vale a pena adiantar mais
conversa sobre esta questão).
Agora sobre as autárquicas de 2021.
Mais do que a “campanha de lavagem cerebral” que a CDU tem andado
a fazer no terreno e nas redes sociais (refiro-me, em particular, ao programa “Aqui vamos ter obra”
como se fosse tudo muito fácil de concretizar, as verbas estivessem ali ao lado
disponíveis para serem aplicadas, o concelho não tivesse outros problemas
estruturais a resolver, mas, principalmente, como se antes não tivessem estado mais
de 40 anos na liderança da câmara municipal e, sobretudo, como se os/as
almadenses sofressem de amnésia seletiva e já não se lembrassem dos múltiplos
exemplos de más práticas ao nível da gestão dos recursos humanos, da proteção
do ambiente, do urbanismo, da contratação pública, da parcialidade na atribuição
de apoios/ subsídios, da falta de transparência na gestão autárquica, na limitação do acesso à
informação administrativa, etc. etc.), confesso que me espanta a desfaçatez de
alguns “apoiantes de circunstância” que vindos dos mais diversos setores e partidos
– muitos deles antes ferrenhos opositores da CDU – resolveram, agora, vestir a
camisola da coligação por, alegadamente, terem sido prejudicados pela atual
gestão PS / PSD e usam o seu caso particular como sintoma da doença que dizem
padecer o executivo em funções, generalizando o diagnóstico e considerando o
seu voto nos anteriores carrascos como o “antibiótico” que cura todos os males que
lhes apontavam.
Dizem que a memória dos eleitores é curta, e a daqueles a quem me
acabei de referir, assim o demonstra… mas a minha ainda perdura. E por mais
críticas que até possa ter à gestão PS / PSD da câmara de Almada (delas não
estão isentos), isso não me faz esquecer tudo o que denunciei às autoridades
competentes e aqui apresentei neste mesmo espaço, sobre a gestão autárquica da
CDU (quem quiser pode consultar os arquivos para se inteirar das várias
situações, documentos e respostas obtidas).
Mas, principalmente, não me esqueço das represálias que sofri,
desde ameaças à minha integridade física (de forma presencial e nas redes
sociais) até às injúrias de que eu e a minha família fomos alvo (com o envio de
dezenas de cartas anónimas humilhantes encaminhadas para o meu local de
trabalho, para os condomínios dos prédios da avenida onde resido, distribuídas
pelos cafés onde sabiam eu costumava frequentar, etc. etc.). É verdade que,
apesar de algumas destas pessoas se identificarem como militantes do PCP, isso
só as responsabiliza a elas próprias e não transforma a sua conduta individual numa
culpa coletiva. Contudo, existe um nexo de causalidade entre as denúncias das
más práticas de gestão da CDU na câmara de Almada e as retaliações que me
atingiram, e essa é uma ligação que não podemos deixar de considerar.
Por isso, CDU na câmara de Almada? Não, muito obrigada!
Mantendo o BE em Almada, ainda hoje, os mesmos vícios que levaram
ao meu afastamento em 2010, obviamente que também não é neles que irei votar.
Porque considero o voto um dever cívico, e não coloco a hipótese
de votar nulo ou em branco, resta-me apenas o PS como escolha já que não me
identifico com nenhum dos outros partidos concorrentes. Por isso a minha
escolha vai para a Inês de Medeiros (Câmara Municipal) e para a Maria D'Assis
(freguesia onde resido).
Parecendo uma escolha secundária (não sou hipócrita ao ponto de
vir aqui afirmar que partilho o referencial socialista em termos de objetivos de
administração autárquica porque isso seria mentir a mim mesma) ela é igualmente
válida, pois o que importa é que o voto que depositarei domingo na urna tem
tanto valor como os que lá forem colocados por convicção.
A terminar espero que a tendência verificada nos últimos anos no nosso concelho se mantenha: a CDU a descer e o PS a subir, como é notório se compararmos os resultados das eleições autárquicas (imagem inicial – onde é bem visível a progressiva perda de confiança do eleitorado na CDU) ou se fizermos o confronto com as legislativas (com o PS a ultrapassar os comunistas de forma exponencial) – imagem seguinte.
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