sexta-feira, 25 de agosto de 2017

É possível gostar de um livro mas não da personagem principal?


O primeiro livro de José Rodrigues dos Santos que li foi o Codex 632 de que já aqui vos falei neste mesmo espaço há onze anos (pois é, o INFINITOS tem mesmo mais de uma década).
Estou, neste momento, a acabar a leitura do seu último livro: Vaticanum cujo processo criativo o autor explica AQUI.
Pelo que acima fica escrito, pensarão que sou uma acérrima fã de José Rodrigues dos Santos, quiçá do personagem principal Tomás Noronha.
Acontece, porém, que sendo verdade que gostei de ler as citadas obras (umas mais do que outras), não posso deixar de referir que o protagonista me irrita solenemente: considero-o algo pedante, narcisista quanto baste mas, sobretudo, com algumas atitudes sexistas embora apareçam mascaradas de uma aparente tolerância e respeito pelas mulheres.
Explicando melhor: é raro, se não inexistente, o enredo em que Tomás Noronha não tenha como parceira de aventuras uma bela mulher sempre descrita como um modelo exemplar de beleza e por quem se sente, invariavelmente, atraído havendo mesmo, nalguns casos, descrições um pouco ousadas de momentos de atração / sedução entre ambos.
É verdade que todas essas mulheres, a par do aspeto físico notável, são descritas como mentes brilhantes e algumas desempenham cargos de relevo no mundo empresarial ou académico. Ainda assim, não consigo deixar de pensar que se trata de um estereótipo que acaba por coisificar a mulher e fazer dela pouco mais do que um objeto sexual neste caso, “com miolos”.
Apesar disso, confesso, o que me atrai nos livros de José Rodrigues dos Santos é a profusão de elementos históricos, apresentados com grande pormenor e muito bem enquadrados na ficção que suporta o enredo e que me levam a investigar, em paralelo, os temas por ele tratados.
Como é o caso do livro que estou a ler: o Vaticanum. Nele são feitas referências verdadeiras a factos históricos sobre o escândalo do Banco Ambrosiano, a morte do Papa João Paulo I ou o apoio do Papa João Paulo II ao sindicato polaco “Solidariedade”. Além da desmistificação acerca do Banco do Vaticano e das acusações de falta de transparência e corrupção que terão levado o atual Papa Francisco a iniciar uma reforma profunda visando a credibilidade da instituição. Matérias que despertam o meu interesse pelos contornos de mistério (e não só) que encerram.

Em conclusão: vale a pena ler José Rodrigues dos Santos, mesmo não gostando nada de Tomás Noronha.

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