Um texto de um sociólogo do trabalho sobre o nosso sindicalismo, muito interessante.
Apresento apenas um resumo. O texto integral pode ser lido AQUI.
Para uma inflexão séria nas estratégias sindicais ineficazes
Considerando a situação do país e a avalancha de medidas de ataque do poder governamental e patronal ao status quo laboral, a participação popular nas manifestações da CGTP em Lisboa e no Porto foi razoável. Porém, foi uma participação previsível e muito parcial que não chegou a muitos sectores da população trabalhadora que têm todo o interesse em opor-se à política anti-social e anti-laboral do governo. E faltaram grupos profissionais que recentemente se tinham mobilizado de forma mais vasta.
(…)Temos sérias preocupações no que respeita à estratégia da CGTP. O lançamento praticamente ritual do apelo à ‘semana de luta’ em Outubro é evidentemente pouco e simultaneamente demais. Em primeiro lugar, os sindicatos, ao nível das empresas, estão muito enfraquecidos, e a convocação de greves pela CGTP arrisca expor a sua fraqueza e divisão, isolando os militantes e activistas da massa de trabalhadores compreensivelmente amedrontados pela insegurança e a prepotência patronal. A demonstração de fraqueza sindical é precisamente aquilo que o patronato e o governo precisam para continuar a sua ofensiva com confiança. Não me parece muito previdente. É a repetição ritual da bravura maximalista que acompanhou a convocação da última greve geral. Além de mais, são acções que não têm possibilidade de produzir ganhos visíveis para os trabalhadores, de maneira a ensinar-lhes que lutar vale a pena. É uma estratégia arriscada e imprudente de desmobilização e de um desgaste de recursos organizacionais irrecuperáveis.
(…)A denúncia da situação e do poder pela CGTP é relativamente bem construída mas não basta: precisamos de uma estratégia que consiga romper o ciclo de derrota; precisamos de uma estratégia que indique saídas positivas e realistas, que vise travar o poder do capital financeiro, travar a ofensiva anti-laboral e anti-social, uma estratégia que também projecte uma transformação social, ou seja, uma estratégia radicalmente ‘reformista’ em que o movimento sindical se ponha na vanguarda de toda a população assalariada e dependente, para a defesa de um capitalismo seriamente regulado e socialmente responsável (ao nível nacional e europeu). Para tal é preciso muito esforço útil e uma estratégia de mobilização constante, a partir da acção do movimento sindical no seu conjunto e liderada ao nível confederal sindical. Se houver recurso a greves como armas nesta grande batalha ‘civilizacional’ (para usar a boa referência retórica do dirigente da CGTP), a sua utilização deveria ser táctica e deveria nascer da luta, lançadas para terem efeitos concretos e tangíveis.
(…)Infelizmente, as forças predominantes na CGTP (desde o PCP até ao BE) estão alérgicas a esse tipo de pensamento (“Deus nos livre de entrar em jogos de negociação-conflito: as massas podem aprender lições falsas e nós poderemos ficar contaminados pelo compromissos!”), e infelizmente, a UGT está alérgica à mobilização popular! É preciso um lobby junto das lideranças sindicais de todo o movimento sindical, porque nesta divisão inútil, com base em diferenças ideológicas e políticas irrelevantes, afundaremos todos.
(…)Lisboa, 3 de Outubro de 2011,
Alan Stoleroff
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