terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Carta a um camarada


Carta enviada a um camarada em 17-07-2011 (já depois de ter renunciado aos cargos autárquicos mas ainda antes de ter saído, definitivamente, do BE) a cujo texto foram, por razões de privacidade, retirados os excertos que poderiam identificar a pessoa a quem se dirigia:

«Dirijo-te esta missiva em virtude de me terem feito chegar uma tua mensagem onde sou citada (dela extrai o parágrafo necessário e que adiante transcrevo). E porquê decidi não ficar calada? Simples: o teu texto, no enquadramento que lhe dás, pressupõe um juízo errado sobre mim que não posso deixar passar sem comentar por ele me parecer o reflexo de uma análise precipitada, quiçá influenciada por formulações opinativas de terceiros, deliberadamente tendenciosas. E porque essa mensagem foi enviada a um conjunto de pessoas, também a elas darei conhecimento desta minha resposta.

Confesso que, sinceramente, não esperava de ti um comentário deste estilo (encerrando na sua formulação preconceitos graves) pois, apesar das tuas muitas ausências (…) sempre te considerei uma pessoa frontal e alguém capaz de pensar pela própria cabeça.

Lembro, a propósito, a tua carta/desabafo de Dezembro de 2006 (que remeteste a vários aderentes do BE Almada, entre os quais eu própria) e onde fazias o balanço da actuação do BE na Assembleia Municipal de Almada, (…), ousando dizer aquilo que muito poucos se tinham, então, apercebido: a inexplicável subserviência do BE em relação à CDU (algo que hoje,  afinal, parece já não te incomodar, muito pelo contrário).

Pese embora houvesse muita matéria que gostaria de comentar, vou focar-me apenas no seguinte parágrafo:
«Tod@s temos direito às nossas opiniões, prova disso foram as propostas construtivas apresentadas já por diferentes camaradas para alteração da composição deste grupo de debate, mas sejamos construtiv@s... primeiro, o problema é a constituição do grupo... depois o problema é o facto de ele não ser abrangente... depois é o facto de não prever quaisquer mecanismos inequívocos de alargamento...  e aparentemente será sempre assim até que todos tenhamos voz de forma deliberativa (mesmo os que, por exemplo, participam de forma activa na blogosfera a apoiar partidos como o CDS-PP e o seu envolvimento na purificação da política concelhia... e sim estou a falar da Ermelinda Toscano, eleita pelo Bloco de Esquerda, para que não restem dúvidas).»

Antes de continuar, todavia, tenho de te deixar um pequeno reparo.  Trata-se da confusão que fazes entre decisão (acto de uma pessoa isolada), deliberação (acto que expressa uma vontade colectiva) e capacidade deliberativa (competência legal dos órgãos colegiais) o que, desculpa a sinceridade (são “ossos do meu ofício” e não consigo deixar de o referir), é imperdoável num autarca com vários anos de experiência como tu e que deveria saber distinguir estes conceitos não os aplicando indevidamente como fazes.

Passando ao conteúdo do teu texto…

Começo por agradecer a tua benevolência em relação à minha pessoa,  dada como exemplo do excepcional pluralismo do BE… que até vai ao ponto de tolerar no seu seio os aderentes a quem acusam de apoiar, activamente, um partido de direita. A seguir, dois pormenores a ter em consideração antes de avançar… Primeiro: é feita uma afirmação grave, dada como um facto consumado, sem que se especifique quaisquer elementos probatórios. Segundo: para sustentar uma certa ideia de democracia incorre-se, na minha opinião, numa incoerência insustentável – a de que faz sentido um partido de esquerda aceitar que uma militante sua possa apoiar activamente (como fazes questão de frisar) um partido de direita sem que seja proposta a sua expulsão.

Lamento, contudo, que tenha sido necessário recorrer à deturpação dos factos para sustentares aquela tua tese. Não havia necessidade de o fazer. Ou será que te limitaste a acreditar numa descrição feita por terceiros? Sem a preocupação de ouvir a versão do outro lado? Uma posição que, confesso, esperava de muitos, mas não de ti, por quem tinha bastante consideração… o que não acontece em relação àqueles que, publicamente, na blogosfera e nas redes sociais, me têm apelidado de traidora, cobarde, hipócrita, vendida (umas vezes ao CDS, outras ao PSD e até ao PS, conforme a conveniência do discurso do momento), fascista, pide, merecedora de menos respeito do que as prostituas e por aí adiante, denotando uma grande falta de carácter e um estilo trauliteiro que só serve para denegrir a imagem do BE junto da comunidade e contribuir para afastar os eleitores.

Aquilo a que chamas apoiar activamente o CDS-PP é, tão só e apenas, manifestar a minha concordância com algumas posições do deputado municipal Fernando Pena. Em áreas como a exigência de maior transparência na gestão autárquica, o respeito pelas decisões dos tribunais, mais rigor na justificação da aplicação dos dinheiros públicos ou até a defesa dos direitos dos trabalhadores da CMA, em particular das vítimas de mobbing (como o caso que levou à recente criação de uma comissão eventual da AMA). Não sei se sabes, mas são tudo matérias consignadas no programa eleitoral do BE sufragado em 2009… Ou este foi mais um documento que, apesar de candidato e autarca eleito pelo BE, ainda não leste?... como aconteceu, aliás, com (…) que me confessaste ter votado a favor sem sequer ter lido uma única linha?

Tal como tu, que não quiseste deixar dúvidas quando te referias a mim, também eu quero que todos fiquem cientes de uma coisa: pela parte que me toca, estarei sempre ao lado de todos aqueles que na Assembleia ou na Câmara Municipal de Almada estejam solidários com os trabalhadores da autarquia na defesa intransigente dos seus direitos, contra todas as formas de discriminação. E nunca me calarei só por esses abusos serem cometidos por um suposto partido de esquerda (a CDU). O meu compromisso é com a verdade e a justiça! Não duvides: para mim, não há razões ideológicas e/ou de solidariedade partidária que possam servir para dar cobertura a actos criminosos… por isso, podes crer,  procederia de forma idêntica se na gestão da CMA estivesse o PS, o PSD ou o CDS-PP (até mesmo o BE) e os seus autarcas cometessem os crimes que têm vindo a ser por mim denunciados. Deixo-te esta pergunta: Como actuaria o Bloco de Esquerda se a CDU fosse apenas mais um partido da oposição e não a coligação que, em Almada, está no poder?

Quanto àquilo que designas como o meu “envolvimento na purificação da política concelhia” e que é apresentado como algo condenável: será que te apercebeste como essa confissão dá uma muito má imagem do BE? Faz algum sentido um partido que pretende ser uma espécie de esquerda moral, que diz ter a JUSTIÇA como valor inalienável, preferir ter em Almada uma “política poluída” por um sem número de ilegalidades? A troco de que princípios está o BE em Almada a hipotecar a credibilidade do partido junto da população almadense?

Como a mensagem já vai longa, fico-me por aqui… apesar do muito que precisa, ainda, de ser dito. Talvez um dia tenha oportunidade de to dizer.

Saudações bloquistas.»

1 comentário:

Almerinda Teixeira disse...

ntersuniAcabo de chegar a Almada, após 3 semanas de ausência. E de muito pouco descanso.
Não sou bruxa, mas parece-me q estou a adivinhar o filme...
Penso vir a comentar a carta,e a fazê-lo será dentro de poucos dias. Porém, de momento nãotenho a cabeça fresca.

Boa noite, até breve.

Almerinda Teixeira

Related Posts with Thumbnails