“Copiando Beethoven”, de Agnieszka Holland, é um filme sobre os três últimos anos da vida do compositor alemão Ludwig van Beethoven onde realidade e ficção se encontram lado a lado com a música como estrela principal.
O argumento integra uma personagem feminina (Anna Holtz) que desempenha o papel de copista do mestre (uma figura introduzida apenas para captar a atenção do público e tornar a história mais apelativa em termos comerciais já que nunca existiu), aqui apresentado como um velho rabujento e agressivo, com um comportamento antisocial e algo esquizofrénico, oscilando entre momentos de euforia, outros de calma relativa e, principalmente, uma raiva contra tudo e contra todos, presume-se consequência da surdez que o vitima e impede de ouvir a própria música.
É durante este período que Beethoven apresenta a grande obra da sua vida: a Nona Sinfonia. E o momento alto do filme é, sem margem para qualquer dúvida, a breve recriação, em palco, da estreia desta peça: é impossível ficar indiferente... digo-vos, sem vergonha, que chorei ao ouvir esta fantástica música.
São dez minutos de puro êxtase, impossível de descrever. Somos transportados para outra dimensão, apetece fechar os olhos e deixar os sentidos fluir... mas, por outro lado, presos num encantamento mágico, não conseguimos desviar os olhos do ecrã para observar os músicos vestidos a rigor (sentimo-nos em 1827, viajando no tempo), os acordes a sair desenfreados dos instrumentos, o grupo coral a elevar as vozes num cantar que arrepia e as expressões do rosto de Ed Harris (no papel de Beethoven) ou da bela Diane Kruger (como Anna Holdz), duas actuações plenas de força e sensibilidade.
Pouco me importa, pois, se a história é banal no que toca aos elementos extra-musicais (o confronto emocional entre o mestre e a copista, unidos pelo génio da música que toca a ambos de forma fenomenal, numa época em que a sociedade é, ainda, demasiado castradora no que se refere à emancipação feminina, aparece, claramente, com intuitos comerciais)... só sei que adorei!
Por isso, aconselho-vos a irem ver “Copiando Beethoven”. A música deste grande compositor, magistralmente interpretada, é mais do que suficiente para o considerar um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.
E quem é apreciador do género, decerto nunca esquecerá instantes marcantes como, por exemplo, quando Ed Harris diz, com convicção, uma expressão de olhar inebriado, que «a música é o idioma de Deus» (tendo como ambiente de fundo acordes de piano e violino), ou, mais tarde, num sofrimento atroz, destilando a sua revolta contra o todo poderoso senhor do universo: «Deus infestou-me a cabeça de sons para, depois, me fazer surdo»... momentos dramáticos que nos fazem sentir no lugar da personagem e viver a sua angústia, numa empatia total que causa em nós uma estranha sensação de frustração que só a sublime música de Beethoven, sempre presente, consegue acalmar.
SÍTIO OFICIAL DO FILME
TRAILER
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MP3 DA 9.ª SINFONIA (pela Orquestra Sinfónica da Academia de Música da Ucrânia, regida por Roman Kofman. A gravação foi realizada ao vivo em 8 de Outubro de 2001, na Beethovenhalle de Bonn).
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1 comentário:
Alguma rudeza acompanha os génios.
Não só a surdez o isolou,também a rígida estratificação social na Viena dos séc XVIII e XIX.
Depois a luta legal desesperada pela "guarda" do sobrinho(substituto do filho jamais tido)e
os amargos que este lhe deu.
Foi também o tempo dos "últimos quartetos" e da "Grande Fuga" rejeitada primeiro e depois elogiada conforme orgulhosamente previu.
Deixou-nos da melhor música alguma vez escrita.Sinfonias,Sonatas,Quartetos.
Bebia o seu copito.
À sua !
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