«O Fampyra, medicamento destinado a
doentes com esclerose múltipla (apenas fornecido nas farmácias hospitalares e
desde que prescritos por um neurologista do serviço) era, até dezembro de 2019,
comparticipado pela ADSE.
No entanto, os doentes que este mês
procuraram levantar este medicamento ficaram perplexos quando foram informados
que dos 103,15€ por medicação mensal, a despesa passou a ser de 515,76€
mensais.
A informação foi veiculada pela familiar
de um doente que está a ser seguido no Hospital da Luz, onde adquire a
medicação, através de um post no seu perfil do Facebook.
“Sem pré-aviso e sem a apresentação de
uma única explicação da ADSE aos beneficiários que sofrem de Esclerose
Múltipla, isto apesar da notícia que, em janeiro de 2019, garantia que não
havia perda de benefícios quando uma hipótese semelhante surgiu.
Quem tiver como suportar este encargo
continua o tratamento. Quem não tiver, paciência. Pode ser que morra mais cedo
e alivia as despesas da ADSE pois os doentes com EM não precisam só daquele
medicamento…”
Ao Diário do Distrito, Ermelinda
Toscano explicou que “no dia 30-12-2019 levantei duas caixas do medicamento e
paguei 103€ por cada uma. No dia 20-02-2020, apresentaram-me a fatura dos 515€
por cada uma.
A explicação da farmacêutica, que veio
pessoalmente falar comigo à sala de espera da farmácia do hospital, muito
constrangida, foi a de que a ADSE deixara de suportar os custos do
medicamento.”
Ermelinda Toscano garante que não ficará
em silêncio. “Já apresentei denúncia no Portal da Queixa. E na quinta-feira vou
pessoalmente à ADSE. Não consigo deixar de pensar quando fui confrontada com a
situação, pensando que ia pagar 103€ e me aparece a fatura dos 515€.
E se eu não tivesse dinheiro para pagar?
Quantos doentes com EM não terão sequer esse valor de rendimento, quanto mais
aplicá-lo num único medicamento…”
Este não foi o primeiro «rombo» causado a
doentes com EM, conforme explica também. «Já em 2018 a ADSE deixara de
comparticipar um tratamento periódico (que é de seis em seis meses, uma toxina botulínica,
para diminuir a espasticidade dos músculos) que custa 462€ cada sessão… E sem
direito a reembolso. A conta apenas entra nas despesas de saúde para efeitos de
IRS.
Afinal para que servem os 3,5% que
pagamos 14 meses por ano (apesar de só podermos ‘usufruir’ dos ‘benefícios’
durante 12)?”
O Fampridina é um medicamento que
melhora a marcha de doentes com esclerose múltipla, aprovado pela Autoridade
Nacional do Medicamentos (Infarmed), em 2014.
A Esclerose Múltipla atinge cerca de 60
em cada 100.000 habitantes em Portugal, ascendendo a mais 2.500.000 pessoas que
sofrem desta doença em território nacional.
Trata-se de uma doença neurológica
crónica, muito incapacitante, e mais comum no adulto jovem, que surge
habitualmente na terceira década de vida, com o dobro da frequência no sexo
feminino.
A doença afecta o sistema nervoso
central. As fibras nervosas das células do sistema nervoso estão revestidas por
uma bainha chamada mielina que é essencial para que os estímulos sejam
correctamente propagados.
Na esclerose múltipla a mielina é
destruída, impedindo uma adequada comunicação entre o cérebro e o corpo. Por
outro lado, o processo inflamatório que ocorre nesta doença lesiona as próprias
células nervosas, causando perda permanente de diversas funções, dependendo dos
territórios afectados.
Na sequência desta publicação, o Diário
do Distrito contactou a ADSE a questionar se é confirmada a retirada da
comparticipação no medicamento; o que levou a essa decisão e tratando-se este
um valor elevado, como é que os doentes com menos posses financeiras podem
continuar a recorrer ao medicamento, aguardando agora uma resposta dos
serviços.»
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