segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O embuste

Segundo o jornal Público de domingo passado, Jerónimo de Sousa terá afirmado, durante o comício de Penafiel no sábado, que o novo Código do Trabalho “é um ataque aos direitos históricos dos trabalhadores, que vai ter consequências no aumento do desemprego e na precaridade”. Mais considerou, ainda, que as medidas de combate ao trabalho precário anunciadas por José Sócrates eram “um completo embuste”.

Conhecendo nós o que se está a passar na Câmara Municipal de Almada a nível do trabalho precário (como por aqui temos denunciado), é caso para dizer: bendita demagogia! E louve-se o à vontade para mentir de forma tão descarada.

Ou será que a CDU de Almada age segundo outros princípios que não os defendidos pelo PCP?

Já sei... provavelmente trata-se de uma “crise de ciúmes”. E porquê?

Tão simples como isto: tendo presente o caso dos “falsos recibos verdes” que proliferam na CMA, alguns a exercer funções há dez anos, culpar o novo Código do Trabalho pelo aumento da precaridade é, de facto, risível (embora o assunto seja mais para chorar do que rir).

Assim como classificar de logro as medidas deste Governo que visam combater o trabalho precário é, apenas, uma prova de coerência do PCP.

Tudo indica que Jerónimo de Sousa saberá, de facto, qual é a prática autárquica do seu partido em matéria de gestão de recursos humanos (como o cargo de secretário geral assim o exigirá) e conhecerá (ou outros por ele) a forma expedita de contornar as regras de contratação de pessoal... se o PCP em Almada o sabia na vigência da legislação anterior, também saberá como “furar o esquema” na actual lei.

Daí Jerónimo de Sousa afirmar, com propriedade, claro!, que as novas regras são um embuste. Evidentemente...

Ora, explicada a situação, é óbvio que o PCP não está a achar piada a que venham agora outros invadir um espaço que é seu... precários é com o PCP. Só o PCP os defende com o vigor suficiente para que continuem a existir, em particular nas autarquias por si geridas (atente-se, repito, no caso de Almada - será exemplo único?). Se eles tiverem tendência para diminuir, como é possível, depois, continuar a defendê-los?

Ataque aos direitos dos trabalhadores? E o que chamar àquilo que o PCP tem vindo a fazer na CM de Almada?

Para Jerónimo de Sousa o 1.º Ministro só sabe dizer que “a culpa é sempre dos outros”, mas eu pergunto: e para o PCP, a culpa é de quem? Bem, se calhar estou a ser injusta, e como se trata de uma coligação, é capaz de ser o partido Ecologista "Os Verdes" o grande culpado pelo que se passa neste concelho da margem sul.

Na Câmara Municipal de Almada de quem é, afinal, a responsabilidade pela contratação de pessoal em regime de prestação de serviços para ocupar postos de trabalho permanente, apesar de essa ser uma prática ilegal? É do Governo?

Possivelmente, foram uns infiltrados do executivo governamental que hipnotizaram os dirigentes e vereadores da CMA e os obrigaram a infrigir a lei ou, então, de Código Penal em punho obrigaram-nos a contratar "falsos recibos verdes" apenas para gáudio futuro de um qualquer outro Governo criar uma lei penalizadora e satisfazer o prazer oculto de os ver a todos na rua (aos precários, já se está mesmo a ver).


Ou seja, quando Jerónimo de Sousa acusa o PS de desresponsabilização hipócrita, está a ver no espelho o reflexo multifacetado da CM de Almada... cujos autarcas da CDU, todavia, nunca se esquecem, em público, de usar a conveniente máscara da demagogia para esconder a verdadeira identidade de um partido que prega uma doutrina e pratica o seu inverso.

Artigos relacionados:
Trabalho Precário na Administração Local
Trabalho Precário na CM Almada I
De novo o trabalho precário na CM Almada
Ainda o trabalho precário na CM Almada
Será que vai haver resposta?
Trabalho precário na CMA: quem mente?

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails